DECAPITAÇÃO DOS PROBLEMAS - PARTE VI
DECAPITAÇÃO DOS PROBLEMAS
A busca pelo verdadeiro culpado!
Autor: Edgar S. Torrecilhas
PARTE VI
Quinta se aproxima tão rápido quanto uma lesma faz o percurso de Maceió ao Rio de Janeiro, enquanto que minha mente acelerava a uma proporção maior do que a velocidade da luz, o fim dessa agonia, desse martírio, poderei descansar, mas... como ele sabe que me sentirei descansado? Devo ser obvio, só não percebo pois estou muito abalado com todos os acontecimentos das últimas semanas. Praça central... Lote 14... Me lembra algo, mas neste faroeste de problemas não concluídos e de forças externas as vontades do ser como unidade perante um todo nesta nossa sociedade me impedem de possuir certeza. Decidi dormir bem de quarta para quinta, para ter força e pensar bem quando o culpado de tudo isso estiver prestes a ser desmascarado por mim.
Entre sonhos, pesadelos e repentinos sustos que me faziam acordar, forçavam minha mente a maquinar como seria aquele ser que estava a me destruir por dentro, eu realmente estava um trapo, um monte de ossos e carne sem rumo, sem brilho e o pior, sem certezas. Até minha inocência cheguei a questionar, tudo forjado por algum crápula, porém agora este maligno pensante iria ser destronado de seu cume supostamente inalcançável de soberania.
Chegou o dia, meu plano era simples, esperaria escondido, no momento que tivesse certeza de quem se tratava e o pegaria, seria tão repentino que não deixaria chances para que fugisse, ainda mais por que naquela praça ocorrem sempre rondas da polícia, seria questão de acertar o momento. No caminho para o local da minha maquinada “emboscada”, fui imaginando como seria aquele ser, aquela pessoa que destituiu-me de minha paz e tranquilidade nos últimos tempos. Poderia ser um homem ou uma mulher, não sei, a questão sexual não me parecesse ser um pré-requisito para agir desta forma, mas ainda aposto mais em um homem, mesmo tendo mulheres que tenham certas desavenças comigo, acredito mais em um crápula sem coração ou com problemas mentais. Mas se ele for debilitado em suas faculdades mentais não terei a vingança merecida, mas acho que no momento o restabelecimento do equilíbrio já me tornaria um homem feliz. Mas uma certeza tenho, esse crápula é esperto, ou será que não? Ele praticamente se entregou para mim, será que invés de criar a emboscada eu que estou caindo em uma? Ou será que ele apenas tinha um proposito e agora que o alcançou desistiu? Não creio nisso, mas agora não há o que repensar ou hesitar, chegou o momento.
A praça estava vazia, parecia um deserto seco, estive por um momento esperando até um emaranhado de feno e poeira passar por ali, como em um antigo filme de faroeste, mas logo recobrei o foco e voltei a me concentrar naquela situação, naquele momento. Era um local pacato, porém assustador. A falta de vegetação e pessoas atribuía um ar melancólico a praça. Por quase um segundo me senti o próprio assassino, aquele clima sombrio... Aquela paisagem desoladora... Junto com a vingança me fazia ter pensamentos além dos quais me levaram até aquele exato instante, onde a brisa suave se tornará cortante como facas e gélida como se estivesse em um iceberg. Buscando um local escondido para observar o movimento, ou a falta dele, encontrei espaço entre arbustos retorcidos, me tornei quase um camaleão camuflado em meio aqueles restos de vida, e agora a espreita esperando a execução de minha vingança, apenas mais um pouco de tempo, apenas questão de tempo para poder sentir o doce sabor de minha vitória e calor de minha vingança.
Passará das 19h quando vi o primeiro vulto de ser vivo por ali passar, era uma senhora, quarenta e poucos anos, me parecia triste, me parecia chorar. Aquela mulher me era familiar, mas quem era ela? O seu olhar triste me fazia lembrar a morte de meu pai, mas o olhar triste que me deparei com a morte de meu pai foi o de minha... Não pode ser, não pode ser ela! Não aguentei e sai dos arbustos, com grande dificuldade, caí antes de percorrer 5 metros e ao erguer minha cabeça não via mais a mulher, mas sim um homem que na verdade não consegui ver bem, apenas percebi que ele era grande, usava branco, camisa e calça. Ele me olhava como se tivesse pena de mim, não sabia o que fazer, paralisei. Seria este o causador de toda a minha dor e meu sofrimento, o mensageiro de meu apocalipse? Em um sopro de força ergui meu corpo e direcionando minha voz contra ele perguntei:
-É você quem esta por traz de tudo?
Senti sua feição tornar agora a não só possuir pena de mim, mas certa desilusão. Não suportei o silêncio e o quebrei novamente em um grito agora agudo e cheio de dor e sofrimento ”Quem é você? É você o maldito que deu fim a vida de meus filhos? Você que acabou com minha família? Responda cretino!”. Ele nada respondia, parecia neste momento, tão atônito quanto a mim mesmo, ele então apenas se virou e começou a caminha para longe, tentei segui-lo, minha vista turvou inesperadamente, mantive os passos, que logo foram interrompidos pela queda de meu corpo ao chão. Não sentia mais nada, só conseguia ouvir o barulho de minha própria respiração, respiração ofegante e desacreditada, respiração de um homem que se sentia em seu limite, esgotado. Comecei a perceber que o local estava mudando, mesmo com minha vista turva percebi luzes, mas não só luzes mas também duas vozes ao longe, pareciam conversar algo importante, algo que meus ouvidos me traiam ao não revelar. O pouco que possuía de sensibilidade foi se esvaindo e meu corpo sendo absorvido pelo ambiente, aos poucos tudo foi sumindo, minha visão estava escurecendo e meus olhos se fechando. A última coisa que me lembro deste momento tão... Indescritível foi uma frase dita por uma daquelas vozes, mas uma frase incompleta, que para mim não dizia nada. Seria esse meu fim, agora que cheguei tão perto do criminoso estou impossibilitado de reagir, estou parado e entregue a sua mercê.
A frase então começou a ecoar em minha mente, de forma sublime, quase como se dissipando a cada repetição, mas me fazendo cada vez mais refém de seu significado indecifrável que me fazia levitar deste mundo, indo de encontro ao nada e ao mesmo tempo sentindo meu corpo mais preso ao que acontecia e a frase se repetia... Repetia-se... “Não há melhora, é o fim para ele... É o fim... O fim...” “O meu fim...(?)”.
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